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O Ensino-Aprendizagem na Era do “Co”

O melhor uso que possa ser feito dos instrumentos de comunicação com suporte digital é, a meu ver, a conjugação eficaz das inteligências e das imaginações humanas. A inteligência coletiva é uma inteligência variada, distribuída por todos os lugares, constantemente valorizada, colocada em sinergia em tempo real, que engendra uma mobilização otimizada das competências. Assim como a entendo, a finalidade da inteligência coletiva é colocar os recursos de grandes coletividades a serviço das pessoas e dos pequenos grupos — e não o contrário. É, portanto, um projeto fundamentalmente humanístico, que retoma para si, com os instrumentos atuais, os grandes ideais de emancipação da filosofia das luzes.

Levy (2000:203)

Nos textos disponibilizados e em muita da literatura sobre os novos e estimulantes desafios que os sistemas educativos e os seus profissionais enfrentam nesta sociedade cibercultural, é possível destacar desde logo toda uma nomenclatura (e até a criação de uma série de neologismos) com o uso recorrente do prefixo “co”: coaprendizagem, cooperação, colaboração (co-laborar, ou seja, co-trabalhar, trabalhar junto), coautoria, coorquestração.

Vejamos o que nos dizem alguns autores sobre estes termos.

Para Okada (2014) a web 2.0 é o espaço de fácil interoperabilidade apropriado para a criação e troca de conteúdos, compartilhamento instantâneo de informações, propício à conceção para a aprendizagem colaborativa e social em rede.

Dois conceitos de suma importância nos surgem no texto de Okada: Coaprendizagem e Coinvestigação. No processo educativo implicam-se alterações de papéis do Professor, que numa perspetiva exclusivista de proprietário único do conhecimento é o mero transmissor de conteúdos, aquele que possui todo o saber, o que deposita o conhecimento e do Aluno, como simples recetor desses conteúdos, tornando-o acomodado e não questionador. Vaticinando-se o fim da verticalidade rígida desta Educação Bancária, conforme denominação de Paulo Freire, adotando-se uma metodologia pedagógica, com o foco na aprendizagem centrada no estudante, pautada na lógica da mobilidade aberta em que conhecimento tende a ser compartilhado e livremente acedido, em que o estudante é interagente transformador (Okada, 2014:17). A Coaprendizagem implica parceria no processo colaborativo de aprendizagem, na configuração, compreensão e criação de conhecimento. Em suma, tendo o aluno um papel ativo enquanto construtor do seu conhecimento, envolvendo-se e comprometendo-se com o seu processo de aprendizagem e inserido numa comunidade de aprendizagem, autónomo na sua aprendizagem, compartilhando experiências tendendo à aprendizagem colaborativa, e o professor o papel de fomentador de uma verdadeira comunidade de aprendizagem, um guia da trajetória do estudante, mediador, proporcionando as ajudas adequadas a uma aprendizagem construtivista do aluno, o desenhador de atividades criativas e personalizadas.

Coaprender liga-se, por conseguinte, à aprendizagem aberta colaborativa. Colaboração e abertura estão na essência do conceito de coaprender (Okada, 2014:15). Falando de coaprendizes e coinvestigadores, Okada refere que tendem a aprender a reconstruir conteúdos por meio da própria interpretação e do feedback de outros coaprendizes e coinvestigadores, estejam eles no mesmo espaço físico ou em redes sociais. A Coaprendizagem enfatiza o Conhecimento como uma construção social aberta originando coautores críticos. Despontam nesse cenário, catalisados pela dinâmica das conexões da web 2.0 e pela lógica da coaprendizagem e da coinvestigação, os Recursos Educacionais Abertos – REA. Estes REA ampliam as possibilidades de realização da educação em todos os níveis e modalidades, inclusive não formais.

Segundo Okada a Coinvestigação é o “processo contínuo de levantar questões importantes coletivamente, integrando informações relevantes e gerar linhas aceitáveis de raciocínio fundamentada em premissas científicas e áreas de conhecimento” (Okada, 2014:19). E mais adiante neste seu texto, apresenta a Coinvestigação enquanto investigação colaborativa aberta como o “processo colaborativo de levantar questões, discutir conhecimentos prévios, estabelecer e implementar procedimentos, incluindo análise de dados para sistematizar resultados baseados em evidências e descritos com coerência numa narrativa científica fundamentada e coerente” (Okada, 2011:22/23).

Na Coaprendizagem, os coaprendizes desempenham papéis importantes: Cocriação de Recursos Educativos Abertos, compartilhamento coletivo de feedbacks e comentários, Coorquestração da sua produção e socialização em rede do processo de coaprendizagem.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


LÉVY, Pierre (2000), Cibercultura, 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora 34.


MONTEIRO, Angélica Maria Reis e MOREIRA, J. António (2015) - «Formação e ferramentas colaborativas para a docência na web social», Rev. Diálogo Educ., Volume 15, Número 45, Curitiba, pp. 379-397, maio/ago. 2015.


OKADA, Alexandra (2014) – Competências-chave Para a Coaprendizagem na Era Digital, Coleção Estudos Pedagógicos – Dinâmicas Educacionais Contemporâneas, 1ª Edição, Editores J. António Moreira e António Gomes Ferreira, Santo Tirso: Whitebooks.

CC0 Public Domain - https://pixabay.com

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