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IFAS - Desafios Educacionais (Síntese crítica)

  • Maria Rodrigues
  • 29 de jun. de 2016
  • 9 min de leitura

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Síntese Crítica - PDF
Eis que o povo é um, …
Génesis 11:6

Intróito

Objetiva-se neste pequeno artigo delinear de forma sumária o trajeto percorrido até agora na ação de formação Ferramentas, Plataformas e Interfaces Online. Será um traçado fundamentado nas leituras realizadas (algumas disponibilizadas pelo formador, Sr. Professor J. António Moreira), nas pesquisas efetuadas, e sobretudo, nas conclusões decorrentes do debate realizado na sala de aula virtual. Depois da Fase da Autoaprendizagem que decorreu na semana de 13 a 19 de Junho de 2016, foi-nos lançado o repto de, ao longo da semana de 20 a 26 junho de 2016, no Fórum Ferramentas da Web 2.0, discutirmos sobre as leituras efetuadas e mesmo acrescentar elementos provindos de investigação própria sobre o tópico Recursos Abertos na Era Digital, comentando as afirmações que transcrevo abaixo e relacionando-as com as duas expressões, igualmente reproduzidas logo a seguir a estas afirmações e que apareciam na imagem retirada de prezi disponibilizado pelo Sr. Professor António Moreira:


A linguagem audiovisual, do mundo contemporâneo, é uma linguagem sintética e integral. Sintética, porque funde o áudio e o visual para resultar numa nova comunicação. E integral, porque permite ao cérebro integrar simultaneamente as informações que percebe e aquelas que as memória visual e acústica conservarão, as quais lhe atribuem todo o sentido."


(....) ensinar e aprender nesta escola digital, recorrendo a ferramentas da web 2.0, é sem dúvida, um desafio aliciante, mas ao mesmo tempo muito exigente"


Fun and fear in open spaces

Run away or learning and having fun


Durante estes dias sucederam muitas intervenções, sempre pertinentes, acrescentando e ampliando as nossas linhas de debate, viabilizando a construção coletiva de conhecimento. Fruto de grande partilha, foram sugeridas uma série de ferramentas da Web 2.0 que poderão ser mobilizadas em contexto educativo.

Importa agora delinear algumas das ideias-chave ou linhas de força debatidas. De forma sintética convocarei quatro palavras (algumas recorrentemente utilizadas pelos participantes), quanto a mim, representaram os princípios norteadores neste fórum: INOVAÇÃO, FORMAÇÃO, ADEQUAÇÂO e SEGURANÇA.

São estas as IFAS desafiantes da Educação do Século XXI, particularmente no que diz respeito à mobilização dos recursos tecnológicos que o nosso paradoxal tempo em que vivemos nos oferece.


1. INOVAÇÃO

O segundo dilúvio não terá fim. Não há nenhum fundo sólido sob o oceano de informações. Devemos aceitá-lo como nossa nova condição. Temos que ensinar nossos filhos a nadar, a flutuar, talvez a navegar.

Pierre Lévy, 2000

Faço desde já a minha declaração de interesses, é assim que se diz, não é?: para mim, a Internet é a invenção humana mais relevante dos últimos séculos.

Rodeados por bytes, megabytes, gigabytes e outros “ytes”, por profundas e constantes mudanças ocorrendo a um ritmo vertiginoso, principalmente no campo das tão vulgarmente chamadas “novas tecnologias”, numa sociedade com milhões de pessoas em movimento, unidas por redes “invisíveis” num planeta cada vez mais desterritorializado, nem posso imaginar o que diria a minha avó se por algum milagre conseguisse voltar dos mortos e abrisse os olhos para esta sociedade da virtualidade, da informação, mas também da desinformação, da falsa informação, da contra-informação, das notícias num segundo com prazo de validade de meio segundo..., deste mundo de que fazem parte os jovens que enchem as nossas salas de aula. Estas mudanças globais em todos os setores da sociedade à escala planetária não imunizam ninguém, o que Alvin Toffler (1999) já explicava como possantes vagas que se sucedem, modificando o cenário mundial. A escola, principalmente esta, sofre esta pressão de “mudança”. Mas não é uma mudança qualquer, por isso se fala em “inovação”, pois a mudança a ocorrer tem de ser intencional, afastando do seu campo as mudanças produzidas pela evolução "natural" do sistema, deliberada e conscientemente assumidas pelos atores sociais. A inovação ultrapassa o conceito de reforma, por isso a Inovação Pedagógica, não pode ser uma simples renovação na conceção das experiências de educação e aprendizagem, implicando um “novo pensamento sobre a natureza cognitiva e social da educação, não só na interação exploratória das múltiplas perspetivas dos conteúdos mas, em particular, na conceção de que a aprendizagem se desenvolve também através da fluidez na rede de relações que definem o contexto e a proximidade para a inclusão e participação”(Dias, 2013:8). Como referiu a Eva Araújo, a inovação pedagógica implica “ uma necessidade de mudança de postura, de atitude, de abordagem em que o aluno assume um papel muito mais activo na construção do seu conhecimento e o professor um papel de orientador, tutor”. Tem ela razão quando acrescenta não ser este discurso “novidade para nós e vai ao encontro de todas as teorias modernas da educação que vimos falando ao longo destes anos”, pois entre outros grandes pedagogos lembremos Paulo Freire. Também o Rui Soares na sua reflexão sobre as vantagens da incorporação das ferramentas Web 2.0 em contextos educativos, ao citar Grosseck (2009), indica “a possibilidade de testar as práticas didáticas existentes, abrindo caminho à sua inovação”.

Na Inovação Pedagógica vaticina-se o fim da verticalidade rígida da Educação Bancária, conforme denominação de Paulo Freire, adotando-se uma metodologia pedagógica pautada na lógica da mobilidade aberta em que conhecimento tende a ser compartilhado e livremente acedido, em que o estudante é interagente transformador (Okada, 2014:17).


2 - FORMAÇÃO

O que se deve ler na lição não é o que o texto diz, mas aquilo que ele dá o que dizer.

Larrosa, 1998:177

Penso ter sido aceite por todos que os novos recursos tecnológicos poderão ser mais-valias para a aprendizagem, sendo uma questão de conhecer esses recursos e a partir daí identificar os que poderão ser utilizados para proporcionar aos nossos alunos as competências necessárias para a sua formação, entre as quais a capacidade de refletir, criticar, saber estruturar as suas ideias, saber pesquisar, analisar e selecionar, sabendo distinguir as fontes mais seguras e fiáveis. O educador para além de reconhecer as vantagens que as tecnologias digitais representam no contexto da sua prática pedagógica, precisa estar ciente que “as tecnologias digitais demandam uma quase permanente formação, porque nessa área a inovação acontece a todo o momento, o que, por vezes, proporciona mudanças significativas nas práticas dos professores”(Monteiro e Moreira, 2015:383).

De que adiantará a escola estar munida de tecnologia do Século XXI se continuarmos a replicar a mesma metodologia de uma educação dita “Bancária”?

Ilustrando com as palavras da Margarida Faustino é necessário que os “professores que usam os recursos estejam permanentemente a atualizar competências por forma a acompanharem a evolução digital”. Parafraseando Moreira e Monteiro (2015), a Margarida comenta que:


Ensinar desta forma implica que se aposte num modelo de formação de professores Tpack. Este modelo baseia-se na ideia de conhecimento pedagógico de conteúdo que resulta da interdependência de 3 tipos de conhecimento dos professores: o conhecimento científico, o conhecimento pedagógico e o conhecimento tecnológico que em conjunto permitem uma verdadeira integração das TIC na formação de professores.

Também a este respeito concluiu o Nelson Barradas:


Em suma, como refere Moreira; Monteiro (2015), citando Koehler; Mishra (2009); Mishra; Koehler (2006): é necessário, por um lado, promover práticas pedagógico-didáticas ativas e construtivistas, que sustentem um conhecimento coletivo e uma aprendizagem colaborativa, e, por outro, desencadear processos educativos destinados a melhorar e a desenvolver a qualidade profissional dos professores, recorrendo a modelos de formação que se coadunem com as dinâmicas pedagógicas da web social como, o modelo TPACK.

3. ADEQUAÇÃO

I hate and fear "science" because of my conviction that for a long time to come if not forever, it will be the remorseless enemy of mankind. I see it destroying all simplicity and gentleness of life, all beauty of the world; I see it restoring barbarism under the mask of civilization; I see it darkening men's minds and hardening their hearts...

Georges Jean,1990

A meu ver, do confronto entre o uso de tecnologias e a sua aplicação no ensino e na aprendizagem resulta, talvez, um paradoxo que se verbaliza assim: as actuais tecnologias da informação e da comunicação poderão revelar-se instrumentos de crucial relevância para o ensino-aprendizagem e poderão, simultaneamente, revelar-se obstáculos ruinosos quando não se perspetivarem noções tão simples como adequação e necessidade/utilidade.

Para além de conhecer e saber manipular os softwares, o educador necessita saber adequá-los aos objetivos pedagógicos que pretende atingir. A pedra de toque é a atitude do professor: a forma de encarar essas ferramentas, de as conseguir mobilizar adequadamente para melhor conseguir tirar partido desses recursos no ensino-aprendizagem.


4. SEGURANÇA

I hate and fear "science" because of my conviction that for a long time to come if not forever, it will be the remorseless enemy of mankind. I see it destroying all simplicity and gentleness of life, all beauty of the world; I see it restoring barbarism under the mask of civilization; I see it darkening men's minds and hardening their hearts...

George Robert Gis

Palavra muitas vezes repetida ao longo da discussão não fosse o medo (fear) constar numa das afirmações a ter em linha de conta nas nossas altercações. A Sandrine Sousa, a este propósito, discorreu que vivíamos numa época em que a segurança, o zelo, a proteção tendem a ser cada vez mais pensados, pois, os “adultos têm consciência de que a Internet, se mal utilizada, pode ter resultados muito negativos.” São os educadores que têm de alterar essa situação, havendo, um longo trabalho a fazer nessa área, que com força de vontade se consegue alcançar.

É o receio muitas vezes do desconhecido que faz com que muitos Encarregados de Educação ofereçam resistências quando os professores mobilizam estas ferramentas tecnológicas em contexto educativo, principalmente aquelas que envolvem as redes sociais. Experiências deste tipo foram relatadas pelo Carlos Gomes que também considerou que essa aversão igualmente se estendia aos seus colegas, sobretudo os mais velhos. Segundo a Sandra Santos, os “ perigos existem e essa ideia é facilmente interiorizada” pois desconhecem o “ modo como se pode utilizar a internet em segurança”. Na mesma linha de pensamento, o João Carolino referiu que o “uso da Internet pelas crianças deverá ser controlado” mas que acredita “que muitos pais desconheçam como se podem proteger ou sentir-se mais seguros”.

Muitos foram os participantes neste debate que defenderam serem necessárias ações de sensibilização à segurança na Internet, fazendo passar essas informações às famílias dos estudantes, o que aliás, se poderia revelar como oportuno para a tão prezada relação escola-comunidade. A Maria Fradique acrescentou ainda ser “ importante um trabalho conjunto entre a escola/ aluno/ encarregado de educação desmistificando algumas ideias, clarificando outras e criando situações seguras para os alunos sem que isso remeta para a rejeição. Contudo, como todas as ações em educação os resultados serão a longo prazo”. Para o João Carolino a segurança tem vários níveis a definir: “Por um lado a segurança própria de cada indivíduo enquanto utilizador de meios digitais. É necessário que se estabeleçam protocolos claros e seguros de utilização da internet. […] Por outro lado a segurança que os conteúdos disponíveis nos podem oferecer. Sempre que pesquisamos um assunto não sabemos os resultados que teremos”. Certamente que neste capítulo muitos desafios se nos deparam e teremos muito caminho pela frente já perante tanta panóplia de informação é necessário que os alunos consigam separar “o trigo do joio” ao saber pesquisar, identificar e selecionar informação fidedigna que pode ser mobilizada para construir conhecimento num processo de coaprendizagem e coinvestigação resultante da interação professor/aluno.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Existe no tempo contemporâneo uma equação a resolver: professores do século XX versus alunos do século XXI. O que fazer?

Numa das suas intervenções, o Sr. Professor António Moreira, no seu papel de homem da “faísca”, pergunta sobre o que podemos fazer para mudar as mentalidades dos mais resistentes (os professores e os encarregados de educação foram os mais nomeados) à utilização das novas tecnologias nas práticas educativas . Recriando as suas palavras, confesso que gostei de ouvir que não existe uma resposta definitiva. A ideia da receita única e universal é bastante atrativa , mas como em muitos outras coisas nesta vida, eu diria que é utópica. Lembra-me as nossas tentativas, enquanto professores de português de incentivarmos os nossos alunos à leitura Alguém já descobriu uma fórmula mágica universal que faça com que isso suceda? O que podemos realmente, como o Sr. Professor António Moreira discorre é fornecer-lhes pistas, caminhos, … Interrogarmo-nos sobre as nossas próprias práticas, afastar o medo e ter a humildade suficiente para aprender a coaprender com os alunos.

Em Setúbal, de princípio perguntavam: "É para nota?" (E havia medo na voz.) "Não. É para aprender" Pois sim senhor, para aprender é que é: para eu aprender, para o aluno aprender; para estarmos mais perto um do outro: para partirmos a aula ao meio: pataca a mim, pataca a ti."

Sebastião da Gama, Diário.

IMAGEM: Caleidoscópio, [Consultado em 29 de junho de 2016], disponível na URL: <WWW: https://pixabay.com.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • DIAS, Paulo (2013) - «Inovação pedagógica para a sustentabilidade da educação aberta e em rede Educação», Formação & Tecnologias, (Julho-dezembro, 2013), 6 (2), 4-14.


  • GAMA, Sebastião (2004) – Diário, Lisboa: Edições Arrábida.



  • JEAN, Georges (1990) - Los senderos de la imaginación infantil: los cuentos, los poemas, la realidade, México, D.F.: Fondo de Cultura Económica.


  • LARROSA, Jorge (1998) - Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas; Porto Alegre: Contrabando.


  • LÉVY, Pierre (2000) - Cibercultura, 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora 34.



  • MONTEIRO, Angélica Maria Reis e MOREIRA, J. António (2015) - «Formação e ferramentas colaborativas para a docência na web social», Rev. Diálogo Educ., Volume 15, Número 45, Curitiba, pp. 379-397, maio/ago. 2015.



  • OKADA, Alexandra (2014) – Competências-chave Para a Coaprendizagem na Era Digital, Coleção Estudos Pedagógicos – Dinâmicas Educacionais Contemporâneas, 1ª Edição, Editores J. António Moreira e António Gomes Ferreira, Santo Tirso: Whitebooks.


  • TOFFLER , Alvin (1999) - A Terceira Vaga, Livros do Brasil.




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